2010-05-17

Desalinho

Às vezes apetecia-me fechar todas as portas. Uma a uma. Fazer as malas só de ar e de sonhos, para não ter que levar nada de velho, e virar as costas. Partir. Esquecer todas as peças que não encaixam nunca, todas as coisas que acabam por nunca bater certo (porque nunca está tudo no seu sítio, há sempre alguma coisa desorganizada) e deixar de tentar arrumar a vida. Fechar as portas para não ver cada casa que se deixa em balbúrdia, cada assunto por resolver, cada conversa por fazer, cada objectivo por alcançar, porque há dias em que parece que nada fica no sítio: aspiramos, limpamos, arrumamos, catalogamos, organizamos, numeramos e quando viramos costas já está tudo no chão, numa confusão ainda maior do que antes. Por isso queria fechar as portas e partir sem nada do que fiz para trás e principalmente sem nada do que ficou por fazer. Mas para isso teria que ser outra pessoa, entrar noutra pele e deixar-me a mim mesma para trás. Sei que não posso. Fecho uma porta para não ver a confusão e logo uma corrente de ar escancara outra porta na minha vida. Continuo a arrumar, a empilhar livros em prateleiras, a fazer camas, a lavar copos e a varrer o chão na vã esperança de que um dia tudo fique no lugar.

Arctic Monkeys - Old Yellow Bricks


Rota de colisãO

Lá, entre o Sol e o Si